Produtos ecológicos: afinal, são mais caros ou têm mais valor?
Quanto vale o que é feito com matéria-prima sustentável, comércio justo e numa cadeia produtiva que gera renda a mais famílias? Quanto deveria custar um item que polui e destrói a natureza? Estas são algumas das perguntas que devemos fazer antes de avaliar o que realmente custa caro a nós e à sociedade
Provavelmente, você já se questionou por que os produtos ecológicos costumam ser mais caros do que os outros, certo? Mas você já parou para refletir mesmo sobre o assunto? Para fazermos a conta direito, precisamos avaliar os dois lados dessa história. Boralá?
Vamos imaginar, por exemplo, quanto custaria um quilo de carne bovina no Brasil se todos os impactos negativos dessa cadeia produtiva fossem incluídos no custo do produtor e também no preço ao consumidor. Prejuízos como o desmatamento da Amazônia, a degradação do solo, as emissões de CO2 e metano, entre outros, tornariam a carne um dos produtos mais caros do mundo.
Isso só não acontece porque esses impactos ambientais não são computados e a empresa não paga mais por destruir o meio ambiente… Ao contrário, reduz custos de produção, recebe inúmeros subsídios do estado, tem facilidade de acesso a crédito etc. etc. etc.
Outro exemplo? Roupas importadas da China costumam ser mais baratas. Por quê? Bom, em boa parte dos casos, elas são produzidas em grande escala, com mão de obra barata (muitas vezes até com trabalho escravo), isenções fiscais e matéria-prima que são commodities agrícolas, como o algodão (cultivado em grandes monoculturas, sem boas práticas socioambientais).
Assim, validadas por governos, empresas e consumidores, temos hoje muitas cadeias de produção que conseguem ser eficientes (ou seja, muito lucrativas), mas que desenvolvem produtos que deixam enormes rastros de destruição em seu caminho.
Imagine se as empresas que produzem refrigerantes fossem obrigadas a pagar pela poluição dos mares e oceanos causada pelas embalagens de seus produtos, descartadas após o consumo? São tantos exemplos…
Agora, vamos para o outro lado. Pense em um(a) empreendedor(a) que quer desenvolver um produto ecológico. Ele(a) precisará reconstruir toda uma cadeia produtiva, para que cada impacto possa ser minimizado. Muitas vezes, será necessário buscar fornecedores que realmente consigam comprovar a origem de seus insumos e matérias-primas ou a organização dos trabalhadores na linha de produção.
Em resumo, dá muito mais trabalho criar um produto sustentável. Exige muita pesquisa, disposição para inovação, formação de equipes de trabalho comprometidas, bons fornecedores, boa comunicação com os clientes, e por aí vai.
Veja algumas diferenças importantes:
Produtos ‘convencionais’:
- Ciclo de produção impactante ao meio ambiente;
- Priorizam matérias-primas mais baratas;
- Nem sempre remuneram de forma justa os trabalhadores;
- Priorizam o lucro e não a qualidade do produto;
- Nem sempre têm compromisso com a promoção da saúde humana;
- Podem custar menos num primeiro momento, mas, em geral, exigem recompra frequente ou estimulam o consumo mais frequente.
Produtos ecológicos:
- São transparentes em relação ao ciclo produtivo;
- Priorizam matérias-primas naturais, sustentáveis e biodegradáveis;
- Nem sempre têm escala industrial, o que pode aumentar o custo de produção e, por isso, o preço ao consumidor. Com mais escala, o preço tende a baixar um pouco;
- Reduzem a demanda por matérias-primas e recursos extraídos da natureza;
- Priorizam a reutilização e não o descarte após o consumo;
- Têm por trás marcas com propósito social e ambiental;
- Valorizam a cultura regional e o fazer artesanal;
- Possibilitam uma economia ao longo do tempo, pela característica de serem mais duráveis e/ou reutilizáveis;
- São mais saudáveis para as pessoas (e isso também significa economia com medicamentos e atendimentos médicos);
- Promovem hábitos de consumo mais sustentáveis;
- Geram impactos positivos na sociedade.
E aí? Que tipo de produto será que realmente é mais caro? Qual deles têm mais valor? Vamos falar mais sobre isso? Queremos ouvir sua opinião.